terça-feira, 6 de junho de 2017

Por que as pessoas morrem?



Mais de 1,3 milhão de pessoas morrem no Brasil todo ano. A grande maioria de morte morrida, claro, mas há os de morte matada também. Em 2015, foram 59.080 homicídios, segundo informações do Atlas da Violência 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado na última segunda-feira (05/jun).

Os dados são de barbárie!

Principalmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde há mais de 35 homicídios por 100 mil habitantes, o valor é superior a de países em guerra. E quem mais sofre com esse genocídio é a população jovem e negra: entre 2005 e 2015, mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil; de cada 100 pessoas que sofrem homicídio, 71 são negras!

É muita coisa!



Além dos homicídios, morre-se muito no Brasil por causa de acidentes de trânsito. Foram mais de 39,5 mil mortes somente em 2015. A maioria dessas mortes está, em termos absolutos, no Nordeste e Sudeste, mas em termos relativos o Centro-Oeste é onde há mais mortes no trânsito por habitante


Além dos números surreais de mortes por homicídio e no trânsito, há muitas mortes no Brasil por questões de saúde. Por complicações cardiovasculares e respiratórias, somadas, são mais algumas centenas de milhares todo ano no Brasil.

Todos esses dados podem ser visualizados através do Datasus, mantido pelo Ministério da Saúde. Não é muito simples nem muito intuitivo chegar aos dados, mas com bastante persistência e usando o Serviço Eletrônico de Informação ao Cidadão (E-SIC) dá pra obter uma infinidade de números sobre mortes no país.

Pra quem quer informações um pouco mais fáceis de manipular e comparáveis com outros países, o Institute for Healt Metrics and Evaluation (IHME) mantém um portal com informações bem abrangentes.


Sobre o Brasil, é possível ver, por exemplo, o ranking de causas de mortes no país e o ranking por causas prematuras em http://www.healthdata.org/brazil. Um evolutivo, por causa de morte, por país, por ano, por idade, por sexo, e por qualquer outra variável que vier à cabeça, é possível achar em: https://vizhub.healthdata.org/cod/. Os mesmos dados em formato de tabela ainda podem ser baixados em: http://ghdx.healthdata.org/gbd-results-tool.

Nesses links, é possível encontrar ainda dados de outros países. Mas só para China e Estados Unidos você encontra já pronto mapas por município com as taxas de mortalidade.

Nos Estados Unidos, o que tem saltado aos olhos de muita gente são as mortes por uso de drogas à base de opiáceos (à base de ópio)! Muitas vezes, esses opiáceos são analgésicos prescritos por médicos. No geral, essa “epidemia” de overdoses já ultrapassou a de HIV e de mortes por armas de fogo dos anos 1990’s e da de acidentes de trânsito dos anos 1970’s.


Em um artigo de dois pesquisadores da Universidade de Princeton pode-se observar como essas mortes por desespero – drogas, álcool e suicídio – estão crescendo nos Estados Unidos, principalmente entre a população branca de meia-idade, a mais afetada também pelo desemprego e pela crise econômica de 2008. Em outro estudo, um grupo de pesquisadores das universidades de Indiana e Virginia tentou identificar como a taxa de desemprego pode afetar o uso e as mortes por overdose de drogas.

Não sei pra vocês, mas pra mim é bastante sintomático que um país com políticas sociais do tipo liberal sofra desse tipo de epidemia muito mais que os países europeus, de políticas sociais mais próximas ligadas à social-democracia. Um artigo de dois pesquisadores holandeses da Universidade de Amsterdam estuda justamente essa possível ameaça aos europeus frente aos dados dos Estados Unidos. 


Bem, países diferentes têm “epidemias” de mortes diferentes, mas todo o mundo está sujeito a falácias e políticas públicas equivocadas. Se no Brasil tenta-se coibir os homicídios com mais aprisionamentos, agravando a guerra entre policiais militares e jovens de periferia, a guerra contra as drogas também pode ser um antídoto tão ineficaz quanto políticas militarizantes para homicídios. Vejam, as mortes não naturais, como as por homicídios, suicídios e overdoses têm mais a ver com razões sociais que de saúde ou de segurança pública! Quando um político decretar guerra contra as drogas ou guerra contra bandidos, olhe bem para os dados e não se deixe levar por nenhuma charlatanice!

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