Senna, por exemplo, foi 3 vezes campeão da Fórmula 1.
Disputou de igual pra igual com o brasileiro Nelson Piquet, também 3 vezes
campeão, com o francês Alain Prost, 4 vezes campeão, e com tantos outros, como
o inglês Nigel Mansell, a supremacia da categoria no anos 80 e no início dos
anos 90. Senna já foi até eleito pelo próprios pilotos o melhor de todos os tempos, mas é preciso entender que, além de
suas qualidades, a imprensa construiu uma imagem de herói nacional no
imaginário popular.
Pra entender melhor como funciona essa construção, talvez o
programa televisivo Esporte Espetacular,
das manhãs de domingo da Rede Globo,
seja o melhor dos exemplos. O
programa praticamente só transmite disputas esportivas que algum brasileiro tem
chance de vencer, ou seja, se é favorito. Se for esporte coletivo, tenta
personificar o herói em alguém de destaque. Vejam as matérias sobre Neymar, por exemplo. A mesma lógica foi
usada com Oscar Schmidt no basquete, com Marta no futebol feminino, Daiane dos
Santos na ginástica, Hugo Hoyama no tênis de mesa, Popó no boxe e, mais
recentemente, Gabriel Medina no surfe. Aliás, a conquista de Mineirinho no último ano do WCT não é o ideal
pra essa construção. Seria muito mais fácil a criação do mito se Medina
ganhasse o título. É mais fácil vender um único ídolo, um único bom moço e, se
possível, identificar um vilão. Prost foi o vilão de Senna. A seleção cubana
era a vilã da seleção feminina de vôlei. E os argentinos, ah... Quem melhor que
os argentinos pra o papel de vilão?
Herói e vilão
Ao contar histórias, a imprensa também cria heróis e vilões
em outras áreas, como a política. Ao tentar descrever uma operação ou um
escândalo de corrupção, a narrativa acaba levando a um maniqueísmo simplório.
No caso do “Mensalão”, José Dirceu foi o vilão. Foi apontado
como grande líder, grande mentor, chefe da quadrilha de todo o esquema
denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson. Como resultado, o herói é aquele
que pune o vilão. No Mensalão, foi Joaquim Barbosa, ministro do STF encarregado
de ser o relator do caso e presidente do Judiciário no momento do julgamento.
Sua participação foi de fato relevante, mas pra narrativa seria muito mais
complicado colocar os 11 ministros do Supremo como responsáveis pela condenação
de José Dirceu.
Impeachment
Agora, na “Lava Jato”, não é diferente. Foram eleitos os
vilões: Lula, Dilma e o PT. E o herói é o juiz Sérgio Moro, responsável pela condenação e indiciamento de muita gente, sem contar a possibilidade de colocar o ex-presidente na
prisão.
Se dermos uma olhadinha em algumas capas das revistas de maior circulação do país, vemos bem como os mitos são criados.
Dessa vez, tem até o conciliador da nação. Tentaram transformar o conspirador do golpe em uma espécie de
salvador da pátria para sair da crise:
Independente dessa guerra de narrativas, mitos vem sendo reproduzidos à exaustão. Afinal, vai que cola?
[1] Pra mim, o melhor texto é do Washington Post: https://www.washingtonpost.com/news/monkey-cage/wp/2016/04/20/is-the-impeachment-trial-of-brazils-dilma-rousseff-a-coup/
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